"Mesmo nesta manhã, ó Cisne, desperta, levanta-te, vem comigo!"
Terça 15/07/25 - 18h27Moradores de condomínio numa das saídas de M. Claros estão empenhados em identificar o táxi que atropelou, e matou, em velocidade não permitida, uma seriema que ali vivia.
O casal de seriemas frequentava o local há anos e era muito bem quisto; e muito bem tratado por todos.
Na manhã de hoje, uma das seriemas foi atropelada, com grosseira indiferença.
Taxista teve acesso ao local.
Abusou da velocidade e da confiança interna.
Atropelou, com rudeza, uma das seriemas.
Sequer se comoveu com a seriema que restou, e chorou.
Todos procuram identificar o responsável, e também por compaixão.
A outra seriema, sua companheira, estava ao lado.
Tudo viu, e permaneceu.
Correu para socorrer, enquanto o taxista acelerava o carro.
Por toda a tarde de inverno, seu canto, de tristeza, e agora de solidão, pode ser ouvido.
(Há pouco tempo, moradores do mesmo local foram privados da companhia de belo casal de cisnes, imponentes e alegres, que por alguns eram chamados de Kabir e Rumi.
O primeiro é nome de místico e reformador espiritual da Índia, que viveu entre os séculos XV e XVI.
O outro, Rumi, é aceito universalmente como o poeta místico número 1 de toda a humanidade.
Viveu no século 13 e o Oriente peregrina aos seus pés. O São Francisco de lá, tão grande quanto, e do mesmo sagrado século.
Explica-se o sentimento renovado de ausência do casal de cisnes, hoje recrudescido pela morte indiferente da seriema: o cisne é animal sagrado e, por onde vá, símbolo da imortalidade e da transmutação.
Kabir, o poeta, o descreveu em linhas que não se apagam, aqui traduzidas livremente, para chorar a seriema, hoje levada:
Dize-me, ó Cisne, teu antigo canto
De que terras vens, ó Cisne? A que margem voarás?
Onde repousas, ó Cisne, e o que procuras?
Mesmo nesta manhã, ó Cisne, desperta, levanta-te, vem comigo!
Há uma terra onde não há dúvida, nem dor,
onde o terror da morte já não governa.
Ali, as florestas estão em plena primavera,
e no ar se espalha o perfume: “Ele sou eu”.
Ali, a abelha do coração se embriaga profundamente
e não deseja outra alegria.